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Apresento o escritor que prefere a elegância e sensualidade de usar o pseudônimo de "Cazador", pois, acredita que a imaginação pode fluir mais solta no leitor se pouco for revelado.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

ANOS DE LOUCURA


Nos conhecemos numa tarde de muito sol, muito calor.
Ele tinha tristeza no olhar, o que combinava comigo.  
Era pintor e logo me tornei sua modelo. Eu o encontrava  quase todo dia. Adorava quando posava e dividia momentos do meu dia com ele. Enquanto me pintava, ele ia acordando em mim uma mulher há muito adormecida.  
Seduzia-me o modo com que suas palavras de carinho pincelavam, em sua tela, a minha imagem. E como sua alma de artista fazia com que, devagar, pouco a pouco, sem pressa, eu retirasse as vestes. Cada vez que nos encontrávamos mais nua eu ficava.
Enquanto ele trabalhava sem camisa, revelando, em seu peito, pelos meio grisalhos, eu o observava. Meu corpo se arrepiava com a visão. Via suas mãos grandes e hábeis segurando o pincel. O calor aumentava vendo seu olhar, muitas vezes de cobiça, sobre o meu corpo. E percebia, também, sinal de ternura quando nossos olhares se encontravam,  o que me fazia sonhar.
Ele nunca me tocava, mas, muitas noites, sozinha em minha cama, sua presença era quase física. Fazíamos amor e loucuras na minha imaginação. Aquelas mãos, que tanto me chamavam atenção, largavam o pincel e percorriam meu corpo. Com suavidade e firmeza ele moldava meus seios, minha cintura, meu quadril, minhas nádegas, meu sexo... Colocava formas e cores no meu corpo. Com seus beijos ele selava sua assinatura na minha pele, atestando assim que eu era sua. Era a sua obra de arte. Eu me sentia cada vez mais bela e queria dar-lhe um mundo de prazer e fazê-lo ver que com amor e tesão poderíamos criar o mais lindo dos quadros. Nessas noites, eu gozava gritando seu nome. E com a cabeça no meu travesseiro, adormecia imaginando ser seu peito, embalada com a vida pulsando dentro dele.
Dias, meses, anos passavam e nada mudava com meu pintor, continuava dividindo, de dia, a minha vida, nos momentos que o encontrava e de noite, fantasiava loucuras.
Quando posava para ele já me revelava inteira, nua, sem segredos... sem medos... entregue...
E talvez tenha sido por isso que certo dia ele perdeu o interesse. De repente, aconteceu:  o pincel parou. Meu quadro foi deixado de lado.  Outra pintura tomava sua atenção. Outra modelo vivia, agora, para meu desespero, muito mais do que eu:  vivia o que eu tanto desejava nas minhas noites solitárias. Vivia, com ele,  os momentos que eu tanto sonhava.
E de noite, na minha cama, não surgia mais seu nome das profundezas do meu prazer. A fantasia tinha sido, fatalmente, colocada de lado  junto com a pintura e levando consigo parte da minha alma...

                                                            
                                                               Helena


2 comentários:

Francisca disse...

Lindo, triste e profundo! Um mundo de ilusão alimentado por um sedutor e por um coração solitário e sonhador!

Helena disse...

Obrigada, Francisca!